sábado, 4 de junho de 2011

Impulsivamente disse-lhe grosseiras. Cada palavra proferida ressoava como um tapa. Um golpe certeiro.
Assim foi no decorrer da noite.Minuto a minuto. Abusos, absurdos, palavras feias e sentimentos rebentados. Excederam-se todos os limites, como se nada daquilo importasse. Como se ele não importasse.
Chegado ao fim do massacre pôs-se a retirar furtivamente. Fugia como alguém que a pouco tivera a paz roubada. Furtaram-lhe o sossego e o sentido de tudo... Estando só, iniciara-se o martírio, o auto-flagelo. Por fim, brotou-lhe dos olhos a gota de orvalho insalubre com sabor de desgosto. Urrava em desespero. Submisso à situação, assim permaneceu até o romper do amanhecer, para que então, já exausto, caísse atordoado.

Genocídio em Pasárgada.


Vou-me embora, para onde?

O reinado caiu, seu governante amigo fora esquartejado. Dá-se inicio a rebelião. Jovens confusos espalham o caos pelas vielas de sua cidade. ANARQUIA, é o que gritam. Uivam como lobos afoitos, idiotas perdidos, cuja identidade fora apagada pela debilidade mental. Sua mulher violentada, agora pari uma criança não desejada. Que esperar, senão mais um bastardo pelo mundo abandonado?

Vou-me embora, para onde?

Teu processo jaz na desordem. Sua educação é débil, sua justiça é falha e seu reinado é decadente. Mas espere! Lá adiante chegará a nossa salvação!

Não! Não! É o fim!

A guerra química prolifera-se, ceifando vidas inocentes. A morte é eminente. Há corpos sepultados, há cadáveres jogados. Mães clamam por piedade, pela alma corrompida de seus filhos. Destruição!

Vou-me embora, para o inferno.

E por fim explode-se o medo, numa massiva e gigantesca bola de pavor. Morremos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Jaque, despeço-me. Meu anjo.
















Cristina (como a chamávamos, num tom de brincadeira).


Boiam a cada instantes, das mais velhas a recentes recordações. Lembro-me de quando obtivemos nosso primeiro contato, nossas pequenas intrigas e assim por diante, entre outras coisas. Mas de tudo que recordo, os momentos contagiantes de alegria e riso são os que definitivamente prevalecem. Até porque, por mais que houvessem contratempos e imprevistos, dávamos primazia àquilo que fazia nossas tardes de domingos especiais: nosso companheirismo. Jamais esquecerei daquela guria sapeca, estimada por todos. Amada por muitos. Teus conselhos, teus lamentos, tua experiencia de vida e tudo aquilo que se somou à minha. Estais imortalizada, minha cara. Quisera eu aproveitar mais de sua adorável companhia. Poder vê-la novamente tagarelando sobre a vida, afluindo toda essa perseverança e fé. Mas agora, sinto um vácuo. E esta pequena, constante e dolorosa dor, corrói. Tão inesperadamente decorrera o fato, que não me restara sequer o mísero momento de dizer-lhe adeus.

domingo, 18 de abril de 2010



És de mil única.
Atraente e envolvente
Beleza lúdica
A que rende-se o desejo
Declarado e manifesto
Louca vontade de possui-la
Loucamente a almejo
E de tanto apreço,
E de tanto querer,
A tua palidez
Porto-me com desonra
Pleno em altivez.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Episódio no leito


A inquietação pairava meu leito. Contorcia-me desassossegado na cama, à espera do sono. Sem exito, porém... Eis que lhe imaginei estendida ali comigo. Estávamos cara-a-cara. Olhávamos uma para o outro. Rocei então o rosto com uma das mãos, tocando-lhe delicadamente a superfície facial. E com a aspereza de meus dedos percorri sua extensão. Catei-lhe ainda tremulo, englobando-a com a palma. Trouxe-lhe próxima ao meu corpo e com desvelo guardei em meu peito. Contemplei-a novamente por alguns instantes... Então adormeci.



''Se somos metades ao encontro de nossos complementos, serei metade perdida, pois a minha outra metade já não deve ter mais vida.''